Três eventos com públicos bem distintos deverão reunir milhares de pessoas em Santa Maria neste final de semana: a 30ª Feisma, que começa na manhã de sábado; a 74ª Romaria Estadual de Nossa Senhora Medianeira, na manhã de domingo; e a segunda e última etapa das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), na tarde de domingo. Mas, afinal, do ponto de vista do turismo e dos negócios qual o impacto desses eventos, para a cidade?
As respostas apontam que os três eventos geram impacto, mas ainda longe de significar retorno turístico significativo. Mais que isso: setor público e iniciativa privada precisam pesquisar mais, mapear o que traz pessoas à cidade, conhecer melhor o potencial de cada evento e formular estratégias para aproveitar o grande contingente de pessoas que vêm ao município em diferentes épocas do ano.
É consenso entre lideranças de entidades empresariais e técnicos da área de turismo que é preciso reorientar ações e inovar para transformar o Coração de Rio Grande em polo de turismo de eventos.
Um dos entraves é que pouco se sabe sobre o perfil de quem vem a Santa Maria para participar de eventos religiosos, congressos, simpósios, seminários, competições esportivas e feiras de negócio.
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Maior de todos em termos de público, a Romaria da Medianeira passou a ser mapeada a partir de 2010, em uma iniciativa da prefeitura. Realizado a partir de amostragens, o levantamento da Secretaria de Turismo deu início a um trabalho que pode reorientar ações e otimizar esforços para que, de visitantes que aqui permanecem menos de um dia, eles se tornem turistas, prolongando sua estadia.
Nos últimos 14 anos, o evento religioso praticamente triplicou em número de público, saltando de 110 mil, em 2002, para mais de 350 mil, em 2016.
Visita rápida
Para estudiosos do turismo, todo daquele que permanece menos de 24 horas em uma cidade é considerado visitante. O status de turista ocorre com a permanência de, pelo menos um dia. No caso da Romaria da Medianeira, o estudo da prefeitura aponta que, em média, os romeiros vêm em excursões de ônibus fretado e ficam em média 6 horas em solo santa-mariense.
É o tempo suficiente para participar da procissão. Grande parte desse público não se hospeda em hotéis, não faz compras no comércio (que inclusive é fechado no dia da Romaria) e não vai a restaurantes.
– Hoje, a Romaria é visitação, atrai um grande público que vem e vai no mesmo dia. Turismo é permanência, quando não tem permanência é visitação, que nos dá o mesmo custo de infraestrutura. A partir do terceiro dia já passa a ter resultado econômico, com pelo menos dois pernoites, seis refeições, mais tempo para passear e comprar – diz o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação, Ewerton Falk.
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O secretário ressalta que é preciso deixar a cidade mais atrativa para quem vem de fora. Por isso, a primeira ação, este ano, é reorganizar o comércio no entorno da Basílica, onde termina a procissão e onde há missas e a festa. Além do combate rigoroso ao comércio informal, a prefeitura pretende deixar livre a área em frente ao santuário, deslocando os lotes de comércio uma quadra abaixo.
– Hoje há um grande comércio em frente à Basílica, por isso queremos entregar esse espaço para os romeiros, como em Aparecida do Norte (SP), onde as pessoas ficam curtindo o ambiente religioso. É um começo para, a partir do ano que vem, começarmos a repensar ações – completa Falk.
Para o prefeito Jorge Pozzobom (PSDB), todos os eventos dão retorno à cidade. Ele considera que a Romaria da Medianeira, por exemplo, ajuda a divulgar a cidade para todo o Brasil.
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Presidente da Associação de Hotéis, Restaurantes, Agências de Viagem e Turismo (Ahturr), José Rafael D´Império, afirma que a Romaria tem pouco retorno econômico. Em termos de hospedagem, segundo ele, que é do ramo hoteleiro, a ocupação de leitos não tem incremento.
– Hoje, eu não conseguiria encontrar esse público como turista – aponta D´império, ressaltando que, diferentemente da hotelaria, o segmento de restaurantes, bares e lancherias tem algum retorno.
O tesoureiro da entidade, João Provensi, estima que o segmento gastronômico tenha 15% de incremento durante a Romaria:
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– Há um crescimento nesse dia, até mesmo de pessoas da cidade que vão à Romaria e não têm tempo de fazer comida em casa. Se tivéssemos outros pontos turísticos, acredito que o pessoal ficaria mais tempo.
No setor de transportes, o impacto maior se refere à mobilidade. Segundo Cristiano Andretta, gerente operacional do Consórcio Sistema Integrado Municipal (SIM), há aumento de passageiros no dia da Romaria, porém como grande parte é idosa, esse contingente não paga passagem. O Enem, segundo ele, não pode ser comparado com a época em que havia vestibular na UFSM.
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Já os taxistas têm uma das suas melhores épocas. Como este ano, a procissão coincide com a etapa final do Enem e com a Feisma, o setor reforçará o número de táxis.
– A gente vai se preparar para os três eventos e pode até faltar táxi – diz o presidente do Sinditáxi, Marco Antônio Fogliarini.
– Toda vez que tem um evento, é claro que entra um dinheiro bom – diz o presidente da Associação dos Condutores de Táxi de Santa Maria (Atasm), Volmar Arruda.
Aposta em eventos com público de até 1,2 mil pessoas
Além dos eventos tradicionais, outros têm chamado a atenção, entre eles os promovidos pelas instituições de ensino superior, como o Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (Sober), realizado entre o final de julho e o início de agosto, e o Seminário de Eletrônica de Potência e Controle (Sepoc), que ocorreu no mês passado, ambos na UFSM.
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Por meio de pesquisa com os participantes, o Convention Bureau, iniciativa que reúne entidades privadas e a prefeitura, está mapeando esses eventos. Uma das perguntas é quanto a pessoa gastou na cidade, em média, por dia, excluindo hospedagem e inscrição no evento. Aplicada no Sober e no Sepoc, a pesquisa levantou que cada participante de fora gastou R$ 167 por dia só com alimentação, transporte, compras e lazer.
Segundo Rogério Assis Brasil, executivo de mercado do Convention Bureau, a ideia é apostar em eventos que reúnam de 300 a 1,2 mil pessoas.
Outra aposta é no Movimento Apostólico de Schoenstatt, que realiza peregrinações mensais. O documento Encontro do Turismo Religioso – Experiência de Santa Maria, coordenado por Norma Moesch, secretária de Turismo na gestão passada, dá uma dimensão do que representa Schoenstatt em termos turísticos.
Durante todo o ano de 2009, o primeiro do estudo, 198.521 devotos da Mãe Peregrina vieram a Santa Maria. No último ano pesquisado, 2015, houve recorde de 240.307 visitantes/ano. Os romeiros permanecem, em média, de um a dois dias na cidade.